DE MORRO À UNIDOS: A HISTÓRIA DE UMA GRANDE ESCOLA DE SAMBA

Década de 50: o ínicio nas ruas dos bairros

Nesta década o Brasil e a cidade de São Paulo buscam o progresso através da industrialização. O conceito de modernidade começa a ser desejada por toda a população, que já não quer mais ser tão rural, como em décadas passadas. Com o crescimento, porém, a desigualdade social torna-se cada vez mais evidente, principalmente nos bairros afastados das zonas centrais das cidades.
Na capital paulista, mais precisamente na zona norte (região ao norte do Rio Tietê), no bairro de Vila Maria um grupo de amigos das mais variadas etnias, mas com condições sociais modestas resolvem se fantasiarem para o Carnaval. A intenção é dar mais esperança para a população humilde e deixar o dia-a-dia mais alegre e colorido.
Este grupo de amigos que moravam na “parte alta” do distrito da Vila Maria se reúnem em 1950 para desfilarem, desde da Vila Munhoz até a Vista Alegre. Quatro anos depois resolvem oficializar a agremiação e fundam a UNIDOS DO MORRO DE VILA MARIA, registrada em cartório no dia 10 de janeiro de 1954.
A primeira sede da agremiação foi na casa de Seu Mané Sabino. Faltavam recursos para colocar a escola na rua e os recursos eram obtidos através de contribuições dos comerciantes da região e dos próprios componentes. Os ensaios eram na Rua Kaneda, na própria zona norte.

A nova escola de samba que começou desfilando pelas ruas do próprio bairro, aos poucos estende seu percurso até a avenida Celso Garcia e Largo da Concórdia no Brás e no bairro do Pari e posteriormente na Avenida São João, no Centro. Faz sucesso com sua bateria, o baliza Zé Caxambu e Claudete, passista que já causava furor por desfilar de maiô, algo ainda inédito em São Paulo.
No ano de 1956 a Unidos do Morro de Vila Maria participa pela primeira vez de um desfile oficial, concorrendo ao lado de entidades famosas da época e em 1957 conquista o título de campeã.

Década de 60: consolidação de um sonho

A Unidos do Morro de Vila Maria consegue se permanecer em pé, mesmo com as dificuldades de fazer Carnaval em São Paulo. Na década de 60 a bateria da escola é homenageada pelo então prefeito Faria Lima, com o prêmio “Apito de Ouro”.
Em 1968 é realizado na cidade o primeiro desfile oficial e a agremiação consegue o título no grupo de acesso. O enredo foi sobre o maestro Villa Lobos, assinado por João Franco, o Xangô da Vila Maria, um dos primeiros componentes da Unidos do Morro. Xangô era ator, cantor e compositor, além de ser um dos primeiros artistas a aderir ao movimento negro

Década de 70: uma nova escola

Nada atrapalha a garra dos amantes do samba e do Carnaval! Em 1971 a escola muda oficialmente seu nome para GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL SOCIAL ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DE VILA MARIA e continua sua caminhada de glórias, dificuldades e superações para ostentar seu pavilhão e a tradição de um povo sofrido, mas apaixonado pela agremiação e samba.
Já no primeiro ano (1971) como Unidos de Vila Maria a escola consegue a sexta posição com um enredo assinado pelo grande sambista carioca Octávio da Silva, o Talismã. Figura conhecida no Carnaval de São Paulo, ele ainda assinaria os desfiles de 1973, 1980, 1987 além de ter feito o de 1970. Nesta década de 70 a Unidos de Vila Maria, infelizmente voltou ao grupo de acesso.

Década de 80: período no acesso

A década de 80 foi um período onde a escola se reestruturou para os próximos carnavais. Foram alguns resultados expressivos nos grupo de acesso e da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas). Tivemos entre alguns dos mais renomados carnavalescos figuras como Fernando Penteado e Tito Arantes.

Década de 90: reestruturação para voltar ao Especial

Graças a um trabalho forte em todos os segmentos e principalmente sobre as gestões de Ester Cocco e Marcelo Muller, iniciamos uma trajetória que levaria a escola ao Grupo Especial. Marcelo também assumiria por muitos anos, ao lado de Edilson Pereira o trabalho de carnavalesco. Em 1998 a agremiação é campeã do Grupo 2 da UESP e sobe para o Grupo 1. A Unidos de Vila Maria prepara-se para entrar no “novo milênio” cada vez mais forte.

Década de 2000: uma trajetória de sucesso e um novo projeto

A escola começa a década já conquistando o segundo lugar do Grupo 1 da UESP, conquistando assim o direito de desfilar no Grupo de Acesso. Em 2001 com a contratação do carnavalesco Wagner Santos (que assinaria até 2009) a Unidos de Vila Maria se firma como uma das escolas com melhores resultados no Grupo Especial.

A estreia no principal grupo é com o inesquecível desfile “Intolerância não! Viva e deixe viver!”. Em 2005 “Sonho, realidade: No circo da vida” levanta o Anhembi com o refrão “A banda vai tocar… ô,ô,ô,ô! Hoje tem alegria… Sim senhor! O show vai começar, o povo vai aplaudir. Vila Maria e o grande circo vem aí!” São dois desfiles inesquecíveis e tais canções estão na antologia dos sambas-enredo paulistano.
Em 2004, a Unidos de Vila Maria inaugura sua atual sede. Além de receber milhares de pessoas para seus ensaios e eventos, a escola preserva a tradição do samba e da cultura popular brasileira. Transforma seu espaço em ponto de referência para ações sociais em prol de sua apaixonada comunidade, que por 60 anos manteve viva em meio a tantas dificuldades uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo.
A agremiação conquistou sua melhor posição no ano de 2007, contando a história da cidade de Cubatão e em 2008 sobre a imigração japonesa, teve um dos maiores abre-alas do carnaval brasileiro. Uma obra fantástica de mais de 100 metros.
Também nesta década é criado o projeto social “Vila Maria Um Caso de Amor”, em 2001. Com o intuito de atender a comunidade em torno da escola e de outras regiões a escola se firma como uma referência em atendimento de saúde, lazer, profissional, educação e cultura. Saiba mais sobre o projeto em: https://unidosdevilamaria.com.br/caso-amor/

Década de 2010: o bom trabalho continua

A última década foi um marco importante para a escola. Cada vez mais madura em termos de projetos para o carnaval e execução nos desfiles, a Unidos de Vila Maria estreita a relação com sua comunidade e abre espaço para o trabalho de carnavalescos dos mais variados estilos: Fábio Borges, Chico Spinosa, Lucas Pinto, Alexandre Louzada e Sidnei França.
Sidnei assinaria o desfile de 2017 (“Aparecida – A Rainha do Brasil. 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”) sobre os 300 anos da padroeira do Brasil. Este é considerado por muitos um dos desfiles mais emocionantes da escola e abriu precedente para o diálogo entre a Igreja Católica e as escolas de samba. A Unidos de Vila Maria foi a primeira e única agremiação carnavalesca a entrar com um pequeno cortejo cantando o samba-enredo na Basílica de Aparecida.
Após um revés em 2013 e a queda para o grupo de acesso, em 2014 a escola festeja seus 60 anos com o título no grupo. Em 2018 e 2019 faz justas homenagens a dois países latinos-americanos, México e Peru e conquista uma legião de fãs nestas nações.

Em 2020 fizemos uma homenagem a China, uma gigante e milenar nação. O desfile foi muito elogiado pela plástica. Sem dúvida foi um dos maiores desfiles da nossa história. A escola, que em seus 66 anos de história conquistou o respeito do “mundo” do Carnaval, teve na força de sua comunidade a oportunidade de voltar nos desfiles das campeãs.

Para o Carnaval 2021, vamos trazer um dos ingredientes fundamentais da existência humana. O amor em suas várias formas de amar (o amor de pai e mãe, amor mútuo entre os seres e o amor cibernético dos tempos modernos) assim as faces do amor nos levará ao caminho da salvação e a certeza do clarear de um novo dia. Nasce das mãos do criador o Brasil, o celeiro do mundo, e mostra que podemos ser o exemplo como uma legião de boa vontade, o sambista exprime com sua voz que todos somos irmãos e é hora de darmos as mãos, juntos com toda a nação, lavando a nossa alma, mente e coração. Dizendo: Se o mundo precisa de cada um de nós a Vila é porta voz.